EXERCÍCIOS DE MUSCULAÇÃO DESCALÇO VERSUS CALÇADO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS PARA AGACHAMENTO E AFUNDO
DOI:
https://doi.org/10.56238/ramv19n14-010Palavras-chave:
Treinamento Resistido, Exercício Descalço, Agachamento, Afundo, BiomecânicaResumo
Contexto: A prática de exercícios de musculação descalço tem ganhado popularidade, com defensores argumentando benefícios como melhor propriocepção e estabilidade. No entanto, há controvérsias sobre os reais benefícios e potenciais riscos desta prática, especialmente para exercícios fundamentais como agachamento e afundo. Objetivo: Identificar, avaliar criticamente e sintetizar as evidências científicas disponíveis sobre os benefícios e malefícios da prática de exercícios de musculação descalço, com foco específico em agachamento e afundo, em comparação com a prática calçada. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática seguindo as diretrizes PRISMA. Buscas foram conduzidas nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Scopus, Web of Science, SciELO, LILACS, SPORTDiscus, Cochrane Library e Google Acadêmico, utilizando termos relacionados a exercícios descalços, agachamento, afundo e desfechos relevantes. Foram incluídos estudos experimentais, ensaios clínicos e revisões sistemáticas publicados entre 2010 e 2025, em português, inglês ou espanhol, que compararam exercícios descalços com calçados. A qualidade metodológica foi avaliada utilizando as escalas PEDro, AMSTAR-2 e ROBINS-I. Os dados foram sintetizados narrativamente por categorias de desfechos. Resultados: Dez estudos atenderam aos critérios de elegibilidade. As evidências sugerem que exercícios descalços podem melhorar a propriocepção e o feedback sensorial, aumentar a ativação de músculos estabilizadores do pé e tornozelo, e alterar a distribuição da carga entre as articulações dos membros inferiores, com maior ênfase nos músculos do quadril e menor estresse no joelho. No entanto, também foram identificados potenciais malefícios, incluindo alterações na cinemática do movimento, possível redução da estabilidade em algumas direções, especialmente médio-lateral, e aumento do risco de lesões por sobrecarga nas estruturas do pé e tornozelo. A qualidade metodológica dos estudos variou de baixa a alta, com heterogeneidade considerável nos métodos de avaliação e populações estudadas. Conclusão: A prática de exercícios de musculação descalço apresenta tanto benefícios quanto riscos potenciais. A decisão de realizar agachamento e afundo descalço deve ser individualizada, considerando os objetivos de treinamento, histórico de lesões e preferências pessoais. Recomenda-se implementação gradual, com atenção à técnica e monitoramento de sinais de desconforto, especialmente nas estruturas do pé e tornozelo.
Referências
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. ACSM's guidelines for exercise testing and prescription. 11. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2023.
BEHM, D. G.; COLADO, J. C. The effectiveness of resistance training using unstable surfaces and devices for rehabilitation. International Journal of Sports Physical Therapy, v. 7, n. 2, p. 226-241, 2012.
BISHOP, D. An applied research model for the sport sciences. Sports Medicine, v. 38, n. 3, p. 253-263, 2008.
BISCARINI, A. et al. Enhanced foot proprioception through 3-minute walking bouts with ultra-minimalist shoes on surfaces that mimic highly rugged natural terrains. Biomimetics, v. 9, n. 12, p. 741, 2024.
BROWN, S. E. Electromyographical analysis of barefoot squat: a clinical perspective. 2013. 58 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências do Exercício) - East Tennessee State University, Johnson City, 2013.
COHEN, J. et al. The effects of footwear on squat movements. Western Undergraduate Research Journal: Health and Natural Sciences, v. 13, n. 1, p. 1-8, 2023.
DAVIS, I. S.; RICE, H. M.; WEARING, S. C. Why forefoot striking in minimal shoes might positively change the course of running injuries. Journal of Sport and Health Science, v. 6, n. 2, p. 154-161, 2017.
DUAN, L. et al. The influence of different heel heights on squatting stability: a systematic review and network meta-analysis. Applied Sciences, v. 15, n. 5, p. 2471, 2025.
FRANKLIN, S.; LI, F. X.; GREY, M. J. Modifications in lower leg muscle activation when walking barefoot or in minimalist shoes across different age-groups. Gait & Posture, v. 60, p. 1-5, 2018.
HAMMER, M. E. et al. Comparison of barefoot and shod conditions during barbell back squat and lunge exercises. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 32, n. 9, p. 2421-2429, 2018.
HIGGINS, J. P. T. et al. Cochrane handbook for systematic reviews of interventions. 2. ed. Chichester: John Wiley & Sons, 2019.
LIEBERMAN, D. E. et al. Foot strike patterns and collision forces in habitually barefoot versus shod runners. Nature, v. 463, n. 7280, p. 531-535, 2010.
LIEBERMAN, D. E. What we can learn about running from barefoot running: an evolutionary medical perspective. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 40, n. 2, p. 63-72, 2012.
PAGE, M. J. et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ, v. 372, n. 71, 2021.
RAORANE, N. S. et al. Effect of barefoot exercises on dynamic balance in sub-elite marathon runners. Journal of Society of Indian Physiotherapists, v. 8, n. 1, p. 20-25, 2024.
RIEMANN, B. L.; LEPHART, S. M. The sensorimotor system, part I: the physiologic basis of functional joint stability. Journal of Athletic Training, v. 37, n. 1, p. 71-79, 2002.
SATO, K.; FORTENBAUGH, D.; HYDOCK, D. S. Kinematic changes using weightlifting shoes on barbell back squat. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 26, n. 1, p. 28-33, 2012.
SCHERMOLY, T. P.; HOUGH, I. G.; SENCHINA, D. S. The effects of footwear on force production during barbell back squats. In: NATIONAL CONFERENCE ON UNDERGRADUATE RESEARCH, 29., 2015, Cheney. Proceedings [...]. Cheney: Eastern Washington University, 2015. p. 42-51.
SCHOENFELD, B. J. Science and development of muscle hypertrophy. 2. ed. Champaign: Human Kinetics, 2020.
SINCLAIR, J. et al. Influence of minimalist footwear on knee and ankle loads during the barbell back squat. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 29, n. 11, p. 3177-3181, 2015.
SOUTHWELL, D. J. et al. The effects of squatting footwear on three-dimensional lower limb and spine kinetics. Journal of Electromyography and Kinesiology, v. 31, p. 111-118, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global recommendations on physical activity for health. Geneva: WHO Press, 2020.